Taise Brasil
O quarto de Jack
Atualizado: 14 de out.

O filme é de 2015 e rendeu o Oscar de melhor atriz a Brie Larson, que interpreta a mãe de Jack.
Quase que metade da trama do longa acontece em um quarto apertado onde Jack, um garoto de 5 anos, vive desde que nasceu. Sua mãe fora sequestrada por um homem a quem apelidou de "Velho Nick" e de quem protege Jack. O menino não faz ideia de que o Velho Nick é seu raptor e vive no quarto as fantasias comuns à infância de qualquer criança através do cuidado de sua mãe em lhe oferecer subsídios pra reduzir os danos de seu longo sequestro.
O amor entre Jack e a mãe produz sentidos para a vida dentro do quarto ao passo em que apresenta ao menino elementos do mundo real, desconhecido por ele até quando é empurrado para fora do quarto num ousado plano de fuga orquestrado por Joy (sua mãe).
Fora do cativeiro Jack vive eventos com grande potencial desorganizador de seu mundo interno, mas que através dos processos imaginativos de aprendizagem/ensino, trocas e confrontos que Joy lhe proporcionou no quarto, não desmoronou diante do violento corte que foi seu confronto com o vasto mundo exterior.
O filme pode oferecer uma luz sobre o trauma na perspectiva infantil porque monta para o telespectador a experiência vivida em dois tempos por Jack: o acontecimento do sequestro (que dura toda a vida dele até ali) e o depois do evento traumático, o rompimento com o mundo como era conhecido por ele.
O filme revela a importância do engajamento da mãe e, posteriormente, da família de Jack em oferecer-lhe o esteio pra significar os dois momentos de seu trauma e encontrar uma saída para a vida que não teria sido possível sem essa intervenção.
Sensível, emocionante e muito revelador de como é possível, pela via do afeto e da proteção do mundo interior rico e lúdico infantil, vencer os acontecimentos que representam o encontro com o estranho, com o inominável, na vida da criança. É um filme pra fazer acreditar, sobretudo que é possível sobrepor o silêncio e o mutismo no trauma com investimento na retomada pela criança de seu universo de fantasias, que constitui para ele, o mundo como um lugar possível de ser conhecido.